19.7.06

Nova etapa


Na passada terça-feira começou mais uma nova etapa na vida da minha amiga “Limonete Verde”.
Não queria nada que isto lhe estivesse a acontecer. Ela já passou tanto, que achava que já devia tudo ter terminado, mas os médicos acham que ainda faltam quatro “quimios” e uma vacina de 3 em 3 semanas, durante um ano.
Eu louvo aqui a coragem que a Limonete Verde tem.
Tem sido uma luta de loucos.
A primeira fase foi a revelação do Carcinoma, a seguir a mastectomia, depois a quimio e a seguir a radio.
Sempre tentei estar “bem”, empurrá-la, dar-lhe força, mas nem sempre foi fácil. Na frente dela estive sempre relativamente calma e confiante, mas quantas vezes senti o meu Mundo a desabar. Quantas vezes antes dela chegar eu dizia para mim “Sandra, vá, sorriso na cara, porque tens que lhe dar força, enfrentar as coisas com naturalidade para desdramatizar a situação”.
Desde ir ao hospital vê-la depois de operada, onde a encontrava com um ar completamente desmoralizado, a meter-me com ela e tirar-lhe fotografias para ela mais tarde recordar, dizer as maiores barbaridades para a pôr a rir, sair dali, e descer a escada em silêncio com uma das minhas colegas para não chorarmos.
Andava sempre a dizer a todo o pessoal para que a tratassem com a maior normalidade porque nem ela, nem ninguém gosta que olhem com pena.
E não havia que ter pena porque ela FOI, É e SERÁ sempre uma lutadora que irá vencer todos os obstáculos.
Por aquilo que me apercebi, esta nova etapa já está a ser um bocado mais complicada porque antes da quimio, tem que tomar 5 X 4 comprimidos para conseguir aguentar e depois apanha 1 injecção por dia, durante 3 dias para lhe aumentar a produção de glóbulos brancos. Essas injecções provocam dores horrorosas no corpo todo.
Ela já estava com um cabelo grandinho (agora com caracóis), vai de novo cair, voltar aos lenços, aos gorros... Enfim. De novo vai ter que ir buscar força e coragem a tudo aquilo em que acredita.
Mas eu acredito que ela vai vencer tudo. Acredito que ela vai ganhar esta luta de Titãs. Acredito que daqui a um ano já tudo pertence ao passado.

Sem mais comentários.

Até à próxima.
Namastê
Sandra

17.7.06

Aprendiz de viajante


Um dia li num livro: «Viajar cura a melancolia».
Creio que, na altura, acreditei no que lia. Estava doente, tinha quinze anos. Não me lembro da doença que me levara à cama, recordo apenas a impressão que me causara, então, o que acabara de ler.
Os anos passaram - como se apagam as estrelas cadentes - e, ainda hoje, não sei se viajar cura a melancolia. No entanto, persiste em mim aquela estranha impressão de que lera uma predestinação.
A verdade é que desde os quinze anos nunca mais parei de viajar. Atravessei cidades inóspitas, perdi-me entre mares e desertos, mudei de casa quarenta e quatro vezes e conheci corpos que deambulavam pela vasta noite... Avancei sempre, sem destino certo.
Tudo começou a seguir àquela doença.
Era ainda noite fechada. Levantei-me e parti. Fui em direcção ao mar. Segui a rebentação das ondas, apanhei conchas, contornei falésias; afastei-me de casa o mais que pude. Vi a manhã erguer-se, branca, e envolver uma ilha; vi crepúsculos e noites sobre um rio, amei a existência.
Dormia onde calhava: no meio das dunas, enroscado no tojo, como um animal; dormia num pinhal ou onde me dessem abrigo» em celeiros, garagens abandonadas, uma cama...
E quando regressei, regressei com a ânsia do eterno viajante dentro de mim.
Hoje sei que o viajante ideal é aquele que, no decorrer da vida, se despojou das coisas materiais e das tarefas quotidianas. Aprendeu a viver sem possuir nada, sem um modo de vida. Caminha, assim, com a leveza de quem abandonou tudo. Deixa o coração apaixonar-se pelas paisagens enquanto a alma, no puro sopro da madrugada, se recompõe das aflições da cidade.
A pouco e pouco, aprendi que nenhum viajante vê o que outros viajantes, ao passarem pelos mesmos lugares, vêem. O olhar de cada um, sobre as coisas do mundo, é único, não se confunde com nenhum outro.
Viajar, se não cura a melancolia, pelo menos, purifica. Afasta o espírito do que é supérfluo e inútil; e o corpo reencontra a harmonia perdida - entre o homem e a terra.
O viajante aprendeu, assim, a cantar a terra, a noite e a luz, os astros, as águas e a treva, os peixes, os pássaros e as plantas. Aprendeu a nomear o mundo.
Separou com uma linha de água o que nele havia de sedentário daquilo que era nómada; sabe que o homem não foi feito para ficar quieto. A sedentarização empobrece-o, seca-lhe o sangue, mata-lhe a alma - estagna o pensamento.
Por tudo isto, o viajante escolheu o lado nómada da linha de água. Vive ali, e canta - sabendo que a vida não terá sido um abismo, se conseguir que o seu canto, ou estilhaços dele, o una de novo ao Universo.

in O Anjo Mudo, Al Berto

Como eu concordo com este texto...
Sem mais comentários.

Até à próxima.
Namastê
Sandra

10.7.06

Embriagai-vos


“Embriagai-vos. Deve-se estar sempre embriagado; nada mais importa.
Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a terra, deveis embriagar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha, mas embriagai-vos!
E se alguma vez, nos salões de um palácio, sobre a erva verde de uma vala ou na solidão morna do vosso quarto, acordardes de uma embriaguez evanescente ou desaparecida, perguntai ao vento, à vaga, ao pássaro, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai-lhes que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio, vos responderão: “São horas de vos embriagardes! Para não serdes escravos martirizados do tempo, embriagai-vos; embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha”.
(Paraísos Artificiais de Charles Baudelaire)

Embriagar: fig. Absorver o espírito de; extasiar, inebriar, enlevar, maravilhar, entusiasmar.
Este é um texto que desde o dia em que o li, nunca mais o esqueci.
Acho que se o ser humano se deixasse embriagar (sentido figurativo da palavra) fosse de vinho, de poesia ou de virtude, a vida seria tão diferente para todos nós.
Eu adoro embriagar-me de amor, de paixão, de virtude, de poesia, de alegria, de...
Adoro ir para o meio da Natureza, abraçar uma árvore e sentir a sua vibração, deitar-me sobre a relva e senti-la crescer, andar descalça na areia e sentir a energia que vem da nossa mãe terra, sentir o vento beijar-me o rosto, o corpo, acariciar-me o cabelo. Ficar em silêncio e embriagar-me com os sons da vida.
Existem pequenas coisas que podemos sentir a partir da altura em que deixarmos de controlar tudo e deixarmo-nos embriagar de VIDA.
É a diferença entre vivermos através da Razão (Mental) e não do CORAÇÃO (Emocional).

Sem mais comentários.

Até à próxima.
Namastê
Sandra

3.7.06

Manter


Quando escrevo um texto, nunca o releio antes de o colocar no Blog.
O que normalmente acontece é que, assim que o escrevo, entrego-o à minha colega e amiga APR, que o coloca no computador dela e o passa por um corrector ortográfico e ao mesmo tempo o lê.
Quando o vai colocar no Blog vem sempre a mesma pergunta “Qual é o titulo que queres dar a este texto” e eu respondo sempre “Não sei”. Depois o nome acaba sempre por surgir.
Quando escrevi o Amar, ela leu, suspirou e disse “Realmente é tão bom estar apaixonada, mas dá muito trabalho manter...”
Fui para casa e pelo caminho aquela frase foi martelando o meu interior.
Porquê que é tão difícil manter? Porque razão as pessoas mudam no decorrer da relação? O quê que acontece para as relações se desgastarem?
Se nos apaixonamos por alguém é porque passou a existir uma forte atracção a todos os níveis entre as duas pessoas.
Se enquanto a paixão dura tudo flui com naturalidade, porquê que as coisas mudam?
O que eu sinto que acontece (mas esta é a minha verdade, não a dos outros) é que enquanto tudo é novidade a pessoa move montanhas para ver a outra, todos os minutos não bastam para estar ao lado da outra, tudo o que a outra gosta e mesmo que não seja a nossa preferência nós condescendemos e tudo está em plena harmonia.
Só que a paixão é como a Rosa do Principezinho, tem que ser cuidada, regada, acarinhada, temos que tirar um pouco do nosso tempo para o dispensarmos à Rosa.
Temos que conseguir “prender” a outra pessoa a nós.
E o que nós fazemos?
Deixamos que o stress do dia-a-dia apague essa chama da paixão, porque passamos a não ter tempo, a não condescendermos em nada, cobramos tudo o que fazemos pelo outro e vice-versa e assim se vai apagando tudo.
Como eu costumo dizer aos meus amigos, Quando a paixão termina só restam duas hipóteses, ou fica um amor calmo tranquilo com uma grande cumplicidade entre os dois seres ou nada fica e...
Por isso APR, sei que não tens tido um ano muito famoso, mas olha que o teu companheiro tem estado sempre ao teu lado com todas as suas falhas, que são normais no ser humano que passa por aquilo que ambos estão a passar.
Como te disse um dia, “pesa bem o que preferes e rega a tua planta, porque ela é só tua, está presa a ti” ;-)

Mais uma vez, É TÃO BOM ESTAR APAIXONADA.

Sem mais comentários.

Até à próxima.
Namastê
Sandra